Sim eu passei na Prova!!!!!
Depois de uma semana extremamente demorada, marcada pela ansiedade da espera por uma notícia que determinaria meus próximos passos, chegou o resultado do meu exame final. Será que passei na prova?
Esse foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça quando chegou o envelope pesado pelo peso da notícia que trazia dentro dele.
Engraçado, foi que ao segurar o envelope em minhas mãos, todo aquele peso desapareceu, pois como se passasse um filme a minha frente eu revivi todos os aprendizados que essa grande prova chamada Câncer de mama me trouxe no ultimo ano.
A sensação de desespero ao ler a notícia no resultado de um exame de rotina, exatamente 2 anos depois de ter perdido um sobrinho e a 5 anos depois de ter perdido o pai para mesma doença. Será agora a minha vez?
O desejo latente de valorizar as coisas que realmente são importantes na vida, as pessoas amadas, os momentos felizes, os grandes sonhos...a construção de um legado positivo.
Nasceu em mim necessidade de se agarrar na fé e na esperança. E estas adentraram por minha entranhas trazendo forças não sei de onde, ou melhor sei sim, de Deus.
A mão de Deus que me fez tomar uma decisão tão dolorosa e ao mesmo tempo tão preciosa ao escutar minha médica dizer, Gi, na sua ressonância constam mais 2 nódulos semelhantes ao da biópsia, acontece que só teremos certeza realizando nova biópsia, e isso pode demorar um pouco, prefere fazer essa biópsia e aguardar mais 20 dias para operação ou fazer a operação, tirar toda a mama e ter o resultado da biópsia depois?
Lembro de ter perguntado qual o conselho que ela daria a filha dela se a filha dela estivesse no meu lugar. E mais ainda da resposta dela. “ Gi eu não poderia tomar essa decisão por minha filha. E naquele minuto eu pensei nos meus filhos e decidi tirar toda a mama. Sabia decisão, pois os outros nódulos também eram cânceres. Essa doença se espalha muito rápido. E com isso eu aprendi a importância de se ter coragem, coragem para entrar em ação muitas vezes com um futuro não muito claro a sua frente. Mas a final quem é que pode ter certeza sobre o próximo minuto?
Foi aí que aprendi a ser paciente, entendi a importância de cada coisa acontecer a seu tempo. Ter pressa não irá trazer a cura, e sim fazer o nosso precioso tempo passar, sem que tenhamos o devido tempo para curtir o que realmente importa. Nem eu imaginava como cada milésimo de segundo se tornou importante para mim nessa jornada.
Como foi bom passar a ver a beleza nas pequenas coisas. A gratidão passou a ser parte tão rotineira em meus dias no último ano, gratidão por acordar, por ter a minha família a meu lado, por ser amada, por amar tão intensamente, por ter um trabalho apaixonante e inspirador, por ter amigos, por ter condições de cuidar da minha saúde, por decidir ser feliz todos os dias. E olha que se essa decisão já é desafiadora em tempos normais, imagina potencializada pela quimioterapia. Nesses momentos a resiliência e a persistência me carregaram no colo.
Houveram dias em que vitalidade me faltou, e a humildade precisou se integrar a minha personalidade em um imenso pedido de ajuda que reuniu 25 mulheres especiais em minha vida em um lindo chá de lenços, que além de me deixarem linda, me encheu de energia para atravessar mais 6 longos meses que quimioterapia.
A criatividade se fez presente, ao me reinventar de forma diferente a cada dia entre careca lenços e perucas. Perdi a conta de quantas vezes mudei meu visual no último ano, flexibilidade desenvolvida a pulso.
Em meio a tudo isso se fortaleceu em mim um grande propósito, necessidade de contribuir, de devolver ao mundo tudo aquilo que ele tão generosamente me entregava, me entreguei ao trabalho voluntário com paixão, criei uma empresa inovadora e com potencial de ajudar a inúmeras pessoas, o que só se tornou possível por ter aprendido a delegar, a trabalhar em equipe e a dar valor a importância e individualidade de cada pessoa.
Durante muitos momentos, tive dúvidas, chorei, precisei aprender a respirar, a controlar as batidas do meu coração, a me reinventar e a me aceitar com todas essas mudanças.
Quantas vezes os abrações e beijos cheios de amor dos meus filhos e marido me sustentaram, existe um ditado que diz que não se vive de amor, eu digo que o amor dá suporte a vida.
E ao cair essa última ficha da série de aprendizados vividos nesse último ano, mesmo antes de abrir o envelope eu já tinha certeza. Sim eu passei na prova.
Obrigada a todos vocês que me acompanharam nessa jornada. Espero do fundo do meu coração que esses aprendizados te ajudem a refletir sobre o que realmente importa em sua vida.
Um lindo domingo a todos vocês!
