Deixe o portão aberto. (Fabio da Cunha)
O Velório é um bom momento de reflexão e de trazer a memória de quem somos, o que estamos fazendo e qual o legado que estamos deixando e perceber que a vida passa em um piscar de olhos. Estive em um recentemente, e confesso que a morte de alguém próximo mexe muito comigo. Deus recolheu o Seu Jucélio nosso vizinho a mais de 30 anos que me viu crescer e sempre gostava de tirar um sarro da vida alheia rsrsrsrsr ..... pensa num homem fantástico, encorajador, engraçado e íntegro. O portão de casa aberto era sempre um motivo para o Seu Jucélio entrar sem um convite feito, pois ao longo do tempo foi construído uma amizade ímpar com nossa família e que ficará para a eternidade. Essas visitas foram sempre divertidas e de alguns conselhos, eu ficava atento ouvindo sobre as suas experiências na América, algumas vezes as histórias eram repetidas mas eu sempre o ouvia atento como se fosse a primeira vez.
Engraçado como a vida é.... O portão aberto me trouxe a uma reflexão sobre meus relacionamentos, o portão da minha casa sempre está aberto mas por algum motivo poucos entram e os que chegam tocam a campainha antes como se o portão aberto não fosse o suficiente pra dizer entre ou seja bem vindo. Talvez os relacionamentos que construo sejam rasos, não sei, ou em algum momento da nossa existência perdemos a essência dos relacionamentos, construindo muros altos e portão fechado com a desculpa que é por causa da segurança, talvez seja mesmo mas isso nos afastou como comunidade e nos tornou individualistas e menos comunicativos, começamos a ter vergonha de mostrar quem realmente somos de nos expor ao ponto de nos verem sem máscaras, necessitamos de aceitação pois não aceitamos cada um com sua particularidade. Talvez pra alguns é uma invasão a visita inesperada, mas pra pessoas como seu Jucélio o portão aberto é mais uma oportunidade de aproveitar o dom da vida e fazer conexões que serão lembradas pra sempre nessa vida, tudo irá passar e o que fica são as lembranças do portão aberto e de sua chegada com passos lentos trazendo consigo a experiência de uma vida repleta de aventura.
A nós que ficamos que possamos nos permitir a viver mais, permita se preocupar menos com a casa bagunçada e com que os outros vão pensar se você precisar de um punhado de açúcar do vizinho ao final do dia, talvez pelo simples fato que você esqueceu de comprar ou pelo fato de você não ter condições de comprar, qual a vergonha de passar necessidade? Que estupidez esses pensamentos! Abra o portão da sua vida e aproveite o inesperado, aproveite as novidades, aproveite quem gosta de você e deixe –o entrar todos os dias e sentar à sua mesa pra um café.
O portão de casa ficará aberto novamente e a saudade nos trará o desejo de vê-lo entrar novamente a passos vagarosos e com a vontade de conversar. Descanse em paz Seu Jucélio meu amigo nos encontraremos em breve.
Ass: Fabinho (como Seu Jucélio me chamava)
